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readiness - A nova palavra do mundo dos negócios


Photo by Karina Vorozheeva on Unsplash

Diante de toda a incerteza que veio pra ficar, o planejamento ganhou uma melhor amiga, a prontidão. Como desenvolver essa habilidade e o que ela pode nos trazer?


“quando o grau de incerteza é alto, conseguir enxergar cenários e se preparar para tomar as melhores decisões em tempo real quando eles acontecem passam a ser os principais diferenciais estratégicos” Martha Gabriel

Quando li isso em um artigo da Martha Gabriel compreendi porque tantos atores trabalham hoje no mundo corporativo. Vou pegar meu exemplo: estudei edificações e teatro. Atuei desde os 5 anos em casa e a partir dos 9 em grupos amadores, me formando Bacharel em Artes Cênicas com habilitação em Direção Teatral. Dei aula em universidades de cinema e teatro e comecei a dirigir vídeos porém nunca deixei de atuar. E a inovação virou pesquisa e estratégia quando entrei em uma empresa de cursos online muito antes da pandemia ou de isso ser tão comum. Criação (criar histórias e futuros), interpretação (atuar dando forma a essas ideias) e direção (conduzir times e lidar com imprevistos) são as habilidades que mais desenvolvo.

O trabalho dos atores e da direção é, em essência, a prontidão (readiness - nova palavra do mundo dos negócios) que pode ser compreendida como responder o mais rápido possível e de forma efetiva a estímulos do momento. Por mais que exista um texto e movimentações “decoradas” o bom ator consegue pulsar com a vida como se aquilo não fosse um texto que ele repete todas as noites pra uma plateia ou em frente às câmeras pra uma novela ou vídeo institucional. Ele consegue dar vida e sentido para ele no momento em que acontece, adaptando o que for necessário.


Diminuir o tempo entre estímulo e reposta é algo que treinamos diariamente ao ponto dessa distância desaparecer.


Dirigi essa semana a atriz Thais Araújo durante três dias em um evento corporativo com uma equipe de 50 pessoas e pudemos acompanhar essa habilidade que ela tem de transmitir frescor em palavras que conheceu a pouco e foram escritas por outra pessoa. Muitas competências desenvolvidas a princípio para a arte fazem dela uma empresária bem sucedida.


Treinar a prontidão é treinar a improvisação e não se enganem - quanto maior o preparo, melhor a improvisação.


Ao contrário do que muita gente pensa a improvisação não é só intuição em ação. É isso também, ela exige presença - intimamente ligada à agilidade e intuição - e também exige conhecimento: dos elementos ou recursos disponíveis e de si mesmo. Porém também exige fé, que aqui vou traduzir como uma esperança no futuro, uma certeza de que é possível sair daquela situação, de que diante de um imprevisto podemos criar algo ainda melhor e mais interessante. Fé é sobre futuro. Quando atores estudam futurismo eles ficam estranhamente prontos para o mercado corporativo dependendo do arcabouço de tecnicidade que carregam.


Existe a “fé cênica” que usamos pra descrever a verdade transmitida por alguém que está em cena. Mas não é a essa que me refiro, quero falar da fé da criação, a fé do empreendedor.


Photo by Sam Moqadam on Unsplash

Foi muito marcante o primeiro dia de aula de direção teatral onde o professor Paulo Biscaia Filho escreveu na lousa: “O diretor é um Deus” o que parece bem arrogante antes da explicação de que algumas coisas na vida nós alcançamos pela lógica, outras pela intuição e algumas apenas pela fé e é nesse lugar que trabalharíamos dali em diante. Como diretora eu preciso conduzir uma equipe até a obra de arte que criaremos juntos. Eu não sei que obra é essa, eu posso imaginar um pouco dela mas a complexidade de uma peça, filme, evento ou curso não me permite saber de tudo, é impossível. Porem, mesmo sem certezas absolutas eu preciso inspirar a todos que esse lugar é bom, que ele existe e que se formos juntos, mesmo que a direção mude radicalmente com as descobertas do caminho, estaremos bem, alcançaremos algo valioso pra todos. A única coisa que eu posso fazer é confiar: no processo que criamos, nas pessoas envolvidas, em mim mesma e na ponte invisível. Já explico!


Nesse dia o professor explicou que a fé é como a cena no filme do Indiana Jones e a última cruzada em que ele segue os desenhos de um caderno até se deparar com um abismo onde deveria existir uma ponte. Sem saber o que fazer, com o tempo curto, inimigos no encalço, equipe desamparada, ele toma uma decisão: pisa no vazio do abismo.

E magicamente a ponte aparece.



Essa metáfora é muito utilizada mas foi a primeira vez que ouvi ha mais de 10 anos e acredito que muita coisa mudou, principalmente a idéia de herói, de super empreendedor que conquistou algo sozinho - sabemos bem que esse storytelling já não cola, mas a importância da confiança permanece. Eu conduzo as pessoas pela crença no futuro. Preciso que confiem no projeto, em mim e na metodologia de direção seja qual for: compartilhada, facilitadora, situacional…

Com os diferentes papéis que desempenham, a empatia já está nos atores junto com a diversidade: um dia somos homem, no outro mulher, criança, vilão e heroína. Como cada uma das personagens tem uma história e vive em um momento do tempo o estudo é algo cotidiano e aprender rápido é mandatório. Literatura dramática da um trabalhão porque contexto é tudo pra conseguir interpretar e ainda temos as adaptações. Um texto escrito na década de 20 pode ser encenado num futuro distópico em 2075 com personagens humanos e ciborgues e quem sabe até alguns extraterrestres.


No mundo das artes tudo é possível. Só não existe o que não pode ser imaginado. E aí eu te pergunto: o que não pode ser imaginado?


Photo by Ann Fossa on Unsplash

Não estou dizendo que todos precisam ser atores, ao mesmo tempo sempre recomendo cursos de palhaçaria (clown) e improvisação. Aprender a rir da nossa própria cara, dançar com a adversidade, construir com o outro no lugar de competir. Tudo isso a arte ensina. Solte o artista que tem em você, encontre ele na cozinha fazendo um prato diferentão ou brincando com as crianças. Encontre o seu estado de flow, aquele momento em que você fica totalmente absorvido e treine voltar pra esse estado quando quiser ou precisar. No fim é sobre entregar-se - algo que precisamos exercitar pra aprender.



Prontidão, presença, flow e fé

Brincando de definições aqui, observando dia a dia artistas e executivos dos mais variados, diria que prontidão é estar preparado e atento, presença é estar focado no momento e no seu melhor, flow é o estado de presença atuando por um tempo em uma atividade e fé é a esperança de que essa atividade tenha algum sentido benéfico. Existem vários exercícios pra colocar uma equipe ou time no mesmo flow. Desde uma musica ambiente, um check-in clássico a movimentos físicos e jogos cooperativos.

Photo by Scott Broome on Unsplash

Ah, eu também recomendo forró ou danças de salão. Quando dançamos com alguém, precisamos nos adaptar rápido a uma outra pessoa toda vez que trocamos de par. Mesmo que os passos sejam conhecidos e os ritmos também, aquela pessoa é única e vocês terão que criar um jogo único. É necessário muito estado de presença pra dançar bem! Meditação não funciona pra mim mas tem muita gente que gosta, testa o que é bom pra você e vai nessa!!!


No meio do caos e do excesso de informação, a intuição entra no jogo pra fazer ele virar.


Em um livro recente o Claudio Thebas, palhaço e professor de comunicação não violenta e outras tecnologias de convivência, nos conta sobre a arte da presença com o exemplo clássico do cachorro que aparece no meio da cena enquanto o artista está fazendo uma apresentação na rua. Se você ignorar o cachorro será uma tragédia, é preciso lidar com isso, com a verdade do momento. Ele está ali, talvez faça xixi no seu pé, talvez morda alguém que está te assistindo ou lamba sua cara. Não podemos ignora-lo. Não dá pra pedir licença, tirar o cachorro dali e continuar, não podemos quebrar a brincadeira, o fluxo da experiência. Ele vai virar um personagem queiramos ou não. É a vida real, a imprevisibilidade constante invadindo o nosso negócio! Nessa hora readiness é:


  • Atenção pra reconhecer rápido que o cachorro está ali e aceitar isso. Saber que algo assim pode acontecer (planejar diferentes cenários) e acionar sua experiência e estudos em situações similares ou não mas que podem ser úteis nesse momento - PRONTIDÃO;

  • Manter-se no aqui e agora sem interromper o fluxo da cena, sem fugir ou impor idéias futuras, reconhecendo as contribuições venham elas de onde vierem, talvez o próprio cachorro lidere aquele momento, e tudo bem - PRESENÇA;

  • Concentração no que está sendo construído, incluindo e adaptando elementos da cena de acordo com a intuição - FLOW;

  • Confiar que é possível construir o melhor resultado com e pra todos os envolvidos, mesmo que você não saiba mais qual é - FÉ.




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